
Promessa de lucro ou armadilha?

Lembro como se fosse ontem ou melhor, como se fosse um Feirão da Caixa no fim de semana passado. Entrei num stand de vendas só por curiosidade e saí quase financiando um apartamento de 30 metros com varanda gourmet, bancada em quartzo e um projeto de iluminação que parecia cenário de novela das nove. O vendedor jurava que tudo aquilo estaria “à disposição”, bastava eu “negociar bem”.
A real? Aquilo não era o apartamento. Era o espetáculo.
Agora, pensando bem… será que vale a pena mesmo comprar na planta?
Não estou dizendo que comprar um imóvel na planta é furada. Mas também não é o conto de fadas que muita gente vende. A dúvida que me persegue é: vale mais a pena entrar cedo no projeto e correr riscos ou pagar mais caro por algo pronto, visível e sem surpresas?
Com a alta de juros e a instabilidade do setor, a aposta é mais calculada do que parece. Especialmente quando a decisão envolve seus próximos 30 anos de boletos.
Fundamentos da compra de apartamentos na planta: o que ninguém fala no tour do decorado
1. O decorado não é realidade — é teatro cenográfico
Tudo ali foi montado para encantar: espelhos para ampliar o espaço, iluminação para esconder defeitos, móveis sob medida que nem cabem no layout real. É como ir num restaurante de vitrine falsa.
Dica estratégica: leve a planta baixa e compare com o que está vendo. E pergunte, com cara de quem sabe das coisas: “Isso aqui tá incluso no memorial descritivo?”
2. O preço “de lançamento” nem sempre é o melhor negócio
Existe um mito no mercado: “Compre na planta, porque depois vai valorizar”. Nem sempre. Muitas vezes, o preço inicial está inflado pelo marketing e pelas comissões de venda. Você corre o risco de pagar por um futuro que não se realiza.
3. A espera pode te custar mais do que imagina
Do contrato à entrega, podem se passar 3 a 5 anos. Nesse tempo, muita coisa muda: taxa de juros, cenário econômico e até seu estilo de vida. E sim, a construtora pode atrasar, alterar acabamentos ou “reajustar” valores com base no INCC.
As perguntas que evitam arrependimento (e processos)
- O que está incluso no valor final?
- A construtora tem histórico de entrega no prazo?
- Há cláusulas de rescisão ou multa abusiva?
- Existe memorial descritivo detalhado?
A maioria dos compradores nunca lê esses documentos. Spoiler: é aí que mora a dor de cabeça.
Benefícios reais (e defendíveis) de comprar na planta
Nem tudo é polêmica, claro. Vamos aos fatos:
- Preço fracionado: entrada + parcelas durante a obra pode facilitar o planejamento.
- Customização: você pode pedir alterações na planta ou acabamentos (em algumas construtoras).
- Valorização futura: em mercados aquecidos, o imóvel pode sim valorizar entre 20% e 30%.
Mas tudo isso depende de localização, credibilidade da construtora e timing econômico.
Um toque sazonal: época de bônus = época de ciladas?
Dezembro é um clássico: 13º na conta, feirões pipocando e aquela vontade de começar o ano novo com chave (de apê) nova. Mas é também quando surgem ofertas irresistíveis… e decisões apressadas.
Conclusão: o apartamento é seu, mas o roteiro do marketing é deles
Agora, pensando bem… talvez o maior investimento ao comprar um imóvel na planta não seja o dinheiro — mas o tempo de estudo, paciência e negociação.
Porque sim, um apartamento decorado encanta. Mas um contrato mal lido traumatiza.
“Entre o sonho do apê decorado e a realidade do boleto, só sobrevive quem decora com os pés no chão.”